A sexta-feira, 8 de agosto, amanheceu com um silêncio diferente para a música brasileira. Hoje, Preta Gil completaria 51 anos de vida. Mas o país se despede com pesar e profunda tristeza da artista, que morreu no dia 20 de julho, nos Estados Unidos, após uma luta corajosa contra um câncer no intestino.
Preta enfrentava a doença desde 2022 e nos últimos meses estava em Nova York em busca de um tratamento alternativo: uma terapia-alvo, com quimioterapia intravenosa, que atuava sobre mutações específicas do tumor. Segundo a médica Roberta Saretta, que esteve ao lado de Preta desde o diagnóstico até seus últimos momentos, o câncer apresentava múltiplas mutações, o que dificultou a eficácia do protocolo.
"Depois de quatro sessões, ela teve uma infecção e precisou interromper o tratamento. Foram dez dias sem medicação. Voltou, fez mais uma sessão, mas os rins começaram a enfraquecer. A doença havia progredido. Precisamos parar", relatou a médica, em entrevista ao jornal O Globo.
Ao saber da gravidade da situação, Roberta voou para Nova York ao lado de Flora Gil, madrasta e figura materna na vida de Preta, para trazê-la de volta ao Brasil. “Quando me aproximei, ela arregalou os olhos grandes e lindos. Eu falei: ‘Vamos para casa’”, relembra, emocionada.
A volta estava marcada. Um avião UTI sairia do aeroporto de Long Island no domingo, 21 de julho, trazendo Preta de volta ao Rio de Janeiro. Enquanto a equipe médica monitorava seus sinais – todos estáveis, com pressão e eletrocardiograma normais – ela se manteve acordada e consciente durante a viagem de ambulância. “Fiquei de frente para ela, dizendo o tempo todo que a estava levando para casa. Ela queria, com todas as forças, chegar no Brasil”, contou a médica.
Mas a artista não resistiu. Ao chegar ao aeroporto, passou mal, vomitou e, com um fio de voz e lucidez, respondeu à pergunta: “Preta, você dá conta de viajar? Segura mais um pouco?”. Sua última frase foi dolorosamente sincera: “Não dou conta.”
Ela foi levada às pressas para o hospital mais próximo, onde os médicos tentaram reanimá-la. Poucos minutos depois, Preta Gil se foi.
Uma vida de intensidade, alegria e amor
Filha de Gilberto Gil e da empresária Sandra Gadelha, Preta nasceu no dia 8 de agosto de 1974. Cresceu entre a música e os bastidores do show business, construindo sua própria trajetória com autenticidade, irreverência e uma presença marcante. Ao longo de mais de duas décadas de carreira, lançou álbuns, fez turnês pelo país e se destacou como símbolo de empoderamento, liberdade e amor-próprio.
Nas redes sociais, era transparente com seus fãs. Dividia alegrias, dores, lutas e vitórias com coragem rara. Sua batalha contra o câncer foi acompanhada por milhares de pessoas que encontravam força e inspiração em sua vulnerabilidade. Preta nunca escondeu a verdade — e talvez por isso tenha sido tão amada.
Hoje, o Brasil se despede não só de uma artista, mas de uma mulher que viveu com intensidade, que amou profundamente e que enfrentou a doença com a dignidade de uma guerreira.
Preta queria voltar para casa. Queria estar entre os seus. Partiu com esse desejo no peito — e com ele permanecerá viva na memória dos que a amavam.
Descanse em paz, Preta. O Brasil te leva no coração.